O piadista americano

Por Wilson Liberato (De São Paulo/SP)

O piadista americano
Wilson Liberato é escritor

 [Piada: narrativa de humor que provoca riso. Anedota: narrativa de fato curioso que
provoca sorriso e reflexão.]
Dizem que velho (eu) gosta de contar o que passou, com o viés de que “naquele
tempo é que era bom.” Não é bem assim, mas, enfim... Pode-se dar a esse comportamento
o nome de atavismo. Porém, decida o jovem leitor que acompanha as atitudes de vários
políticos nestes tempos que fluem. Tempos de A X B, com patrícios usando contra seus
oponentes argumentos biliares, agressivos, sórdidos – quando não chulos. Tomara que
você não se depare com insultos na próxima campanha eleitoral.
Para seu entretenimento, lembremos episódios históricos e anedóticos envolvendo
o ex-presidente eleito Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956/1961), mineiro de
Diamantina. Certa vez, foi convidado pela UNE carioca (União Nacional dos Estudantes)
para falar numa manifestação antigoverno na então capital, Rio de Janeiro. Ao ser
anunciado, recebeu uma tremenda vaia. Vaia geral. Ele consultou seu relógio, e esperou
que a vaia cessasse. Quando houve silêncio, ele começou seu discurso assim:
“Bendito o país onde estudantes podem vaiar seu presidente da República durante
quatro minutos, com a certeza de que nada lhes acontecerá.”
Houve comoção e depois aplausos calorosos. O presidente pôde expor seus pontos
de vista. Caso raro de reversão de comportamento da plateia.
Em outra ocasião, renitentes estudantes e membros de partidos políticos se
reuniram em ruidoso protesto contra o governo. Juscelino decidiu recebê-los no palácio,
onde pediu que os líderes manifestassem seus pleitos de aumento de verbas, salários e
abonos. O presidente ouviu atento e admitiu que tinham plena razão, mas explicou que
seu orçamento era de X. Se atendesse às reivindicações, teria que cortar recursos
imediatos da saúde, educação e previdência. Caso estivessem de acordo, faria isso em
seguida, por decreto, mas muita gente seria prejudicada. Fizeram as contas e a assembleia
se encerrou com café, água e agradecimentos.
O finado cantor Juca Chaves – o menestrel maldito – compôs a música Presidente
bossa nova. Nela, entre outras críticas, dizia que parentes do presidente iam de avião a
jato tratar de dentes em Paris. Os apoiadores insistiram para que fossem tomadas severas
providências contra o cantor. Juscelino disse: “Amigos, o rapaz é artista. Seu ofício é
compor e cantar. Por que incomodá-lo?”
Em abril/24, o bilionário Elon Musk, radicado nos EUA, dono de poderosa
plataforma digital, lançou impropérios contra o Ministro Alexandre de Morais (STF) e o
presidente Lula. O X da questão. Imprensa e políticos babaram de tanto falar, e vão falar
ainda mais. Tudo que Musk queria. A questão do X. Se Juscelino estivesse na presidência,
provavelmente diria: ‘Amigos, o rapaz é inteligente, mas piadista fraco e grotesco. É seu
passatempo de rico. Por que incomodar-se? Sapo de fora não chia.’ Talvez até pudesse
emendar que os americanos são bons anedotistas, embora péssimos piadistas. A gente
pode até rir de piadas americanas, mas ri de raiva, de tão sem graça que são.
Humor, senhores políticos, humor! Criatividade! É difícil, bem sei, mas tentem pegar leve. Ficaremos agradecidos.